Pelo final do segundo século, em Alexandria, no Egito, encontramos uma escola, nos moldes das escolas filosóficas da época, mas preocupada em pensar e instruir sobre o cristianismo. Poderíamos chamá-la de Escola de Catequese. Conforme nos conta Eusébio de Cesareia (265 - 339) em sua obra de inestimável valor, História Eclesiástica V,10,1: "um homem muito famoso por sua cultura dirigia a escola dos fiéis da região. Chamava-se Panteno. Segundo antigo costume, havia entre eles uma escola das Letras sagradas. Esta escola perdura até nós e soubemos que se acha em mãos de homens poderosos em palavras e zelosos pelas coisas de Deus. Conta-se ter sido o mestre de que falamos um dos mais brilhantes da época, oriundo como era da escola filosófica denominada dos estóicos".
Por volta do ano 190, Clemente substitui Panteno na direção da Escola. Ele nos deixará muitos escritos, possibilitando um conhecimento de sua época e atuação. Embora ainda não haja uma iniciação cristã bem codificada, já encontramos uma autêntica disciplina catecumenal em Alexandria por volta do ano 200. Inclusive a palavra "catecumenato", como no texto seguinte: "A erudição aconselha o mestre que exponha os dogmas principais, o ajuda a persuadir a seus ouvintes, provoca a admiração dos catecúmenos e os forma na Verdade" (Stromata I,19,4).
"A palavra catecumenato procede do verbo grego Katechéin, que significa ressoar, fazer soar nos ouvidos e, por extensão, instruir, catequizar. Assim, catecúmeno é o que está sendo instruído, catequizado; mais concretamente, o que está sendo iniciado na escuta da palavra de Deus. A definição mais antiga de catequista tem também o mesmo significado. Catequista é o que instrui na Palavra (cf. Gal 6,6) ao discípulo ou catecúmeno" (J. L. Sáez).
Clemente teve uma sólida formação cultural e filosófica. Alexandria, sua cidade, fundada por Alexandre Magno, é a sucessora de Atenas como centro cultural do mundo. Clemente irá mudar a atitude até então comum entre os pregadores cristãos. De desconfiados e reticentes com a filosofia grega, para seu uso em favor do cristianismo. Clemente afirmará que "o que recolhe o que há de útil [na cultura grega] para a instrução dos catecúmenos não deve abster-se de [usar] seu conhecimento, mas fazê-lo contribuir o mais possível em ajudar os ouvintes" (Stromata VI,19,4). Mas não nos enganemos, essa instrução não é puramente intelectual. É seguimento integral do Evangelho. É assimilação do modo de vida cristã. Modo de vida que os catecúmenos desejam e que os fiéis que já receberam os sacramentos além de desejarem, podem levar a termo.
Segundo podemos intuir dos textos de Clemente, que compara o catecumenato com o plantio de uma árvore e do cuidado até o bom fruto, o catecumenato é um tempo de instrução, purificação e assimilação do novo modo de vida. Exige tempo. Ao menos três anos após a inscrição na caminhada.
[A lei] não permite que se recolha um fruto imperfeito de árvores imperfeitas, senão [que quer] que, depois de três anos, se consagre, no quarto ano, as primícias da colheita a Deus, quando a árvore alcança sua perfeição. Esta imagem agrícola pode nos dar uma lição; ensina-nos a necessidade de podar as excrescências das faltas, e essa vã vegetação do pensamento que cresce ao mesmo tempo que os frutos naturais, até que a jovem planta da fé tenha adquirido sua forma perfeita e sua solidez. É, com efeito, pelo quarto ano, pois se necessita tempo para uma sólida formação catecumental, quando o quarteto de virtudes se consagra a Deus, a terceira etapa tocando já a quarta que é a morada do Senhor (Stromata II,95,3-96,2)
Temos outros testemunhos do uso do termo catecumenato e catecúmeno contemporâneo a Clemente, também no norte da África. O que pressupõe a existência de um catecumenato, ainda que incipiente, como iniciação cristã. Um destes textos é a Paixão de Perpetua e Felicidade. Vibia Perpétua era uma nobre convertida ao cristianismo, aprisionada com sua escrava, Felicidade, também ela cristã, juntamente com alguns catecúmenos. No cárcere, Vibia escreve um diário que será um precioso testemunho destes mártires sacrificados às feras provavelmente em março de 203. Seu testemunho foi tão marcante que são lembradas na Ladainha dos Santos e na Oração Eucarística I. Eis o texto: "Foram presos alguns jovens catecúmenos: Revocatus e Felicidade, sua companheira de escravidão, Saturninus e Secundulus. Com eles, Vibia Perpetua, de linhagem nobre e cultura elevada, casada e mãe, tinha ainda pai, mãe e dois irmãos, um dos quais era catecúmeno" (Passio Perpetuae et Felicitatis I,1-2; o texto original é latino; os termos que nos interessam são respectivamente: catechumeni - catechumenum). Esta obra nos da também um testemunho de oração pelos mortos entre os primeiros cristãos. Perpétua, no cárcere, reza intensamente pelo irmão falecido.
Encontramos também outros termos que indicam, por essa época, aqueles que estão fazendo sua caminhada para o batismo. Certamente catecúmeno foi o que teve maior sucesso, mas não foi nem o primeiro nem o único. O próprio Clemente usa também o termo ouvinte (audiens, auditor). Mas encontramos ainda prosélito de Cristo; e embora mais raramente, recruta, o opondo a quem já recebeu os sacramentos, soldado. Tertuliano utiliza o nome de noviço (De Penitentia 6,1).
Tudo isto demonstra que em Alexandria e Cartago, entre 200 e 210, aqueles que desejavam receber o batismo e participar da Eucaristia passavam por um tempo de preparação intelectual e moral, juntamente com o amadurecimento da fé, não sendo admitidos na Igreja senão depois de darem provas da seriedade de sua conversão. O batismo poderia se realizar em qualquer dia, mas dava-se preferência para o dia da Páscoa. Antes, porém, passavam um tempo mais intenso de jejum e oração, provavelmente uma semana.